Acabara de chegar.
Seu vestido vermelho cor-de-sangue
era arrastado imperdoavelmente pelo chão enquanto rodopiava e rodopiava.
A noite
era infinita, assim. Suas mãos brincavam
com o ar, fazendo os penduricalhos em seus braços fazerem tal barulho que se ritmava com os instrumentos todos daquela roda
musical.
Seus
pés tão sujos quanto doloridos continuavam na brincadeira, rodopiava e
rodopiava.
Seus cabelos
escuros eram jogados para o vento, e não parava para nem se quer respirar.
Sua
pele morena sob a luz da lua deixava claro o tipo de mulher que era.
Mas não
ligava, rodopiava e rodopiava em volta do fogo enquanto batiam palmas.
Valsando
inconsequentemente, não se importava com o que diziam ou pensavam.
Apenas rodopiava
e rodopiava.
A
madrugada caia e a manhã clamava pelo seu espaço, mas persistia. Não queria
parar de dançar nem por um segundo, não queria voltar à realidade.
Em seus
sonhos estava livre.
Mal ela
sabia que liberdade maior de uma cigana não existia.
Não
estava presa a nada nem a ninguém, apenas rodopiando e rodopiando.
A manhã
logo chegou e as lágrimas teimosas seguiram.
O sol
trouxe consigo a imunda realidade.
Segurou
a barra do vestido cor-de-sangue, e com o rosto escondido pelos cabelos
retirou-se.
Já era
hora de partir novamente.