segunda-feira, 15 de outubro de 2012

A Cigana



Acabara de chegar.
Seu vestido vermelho cor-de-sangue era arrastado imperdoavelmente pelo chão enquanto rodopiava e rodopiava.
                A noite era infinita, assim.  Suas mãos brincavam com o ar, fazendo os penduricalhos em seus braços fazerem tal barulho que se ritmava com os instrumentos todos daquela roda musical.
                Seus pés tão sujos quanto doloridos continuavam na brincadeira, rodopiava e rodopiava.
                Seus cabelos escuros eram jogados para o vento, e não parava para nem se quer respirar.
                Sua pele morena sob a luz da lua deixava claro o tipo de mulher que era.
                Mas não ligava, rodopiava e rodopiava em volta do fogo enquanto batiam palmas.
                Valsando inconsequentemente, não se importava com o que diziam ou pensavam.
                Apenas rodopiava e rodopiava.
                A madrugada caia e a manhã clamava pelo seu espaço, mas persistia. Não queria parar de dançar nem por um segundo, não queria voltar à realidade.
                Em seus sonhos estava livre.
                Mal ela sabia que liberdade maior de uma cigana não existia.
                Não estava presa a nada nem a ninguém, apenas rodopiando e rodopiando.
                A manhã logo chegou e as lágrimas teimosas seguiram.
                O sol trouxe consigo a imunda realidade.
                Segurou a barra do vestido cor-de-sangue, e com o rosto escondido pelos cabelos retirou-se.
                Já era hora de partir novamente.