Era uma
fria noite de inverno, e os flocos de neve estavam depositados todos no chão,
em galhos de árvores, e nos destroços...
O céu
estava cinza, e não se via estrelas. Mas não que alguém fosse se importar com
as estrelas em todo aquele caos de guerra.
Calina
seguiu seu caminho tremendo, com um capuz escuro escondendo-a. Não podia estar
na rua uma hora dessas, na verdade, hora alguma lhe era permitida.
Mas
ouvira seu destino. Não só o dela. A Inglaterra não suportaria tanto tempo os
ataques da Alemanha. E sabia que não haveria outro destino se não a morte para
Dror.
Ela
fechou os olhos deixando uma lágrima escapar por entre eles, a qual ao cair
gelou seu rosto e a fez perceber que estava pensando nisso novamente.
Seguiu
seu caminho até que chegou ao seu destino.
Era uma
bela visão, branca... A neve cobria tudo. Se não por uma mancha preta. Ela
parou e ficou encarando esta por alguns instantes até que se mexeu e um rosto
pode ser visto à pálida luz de um dos poucos postes que ainda se encontrava por
ali.
Estavam
no meio do nada. Os dois.
-
Callie?
Ela
puxou o capuz para trás e ele pode ver seu rosto.
- Calina...
Vem, eu te levo pra casa, foi idiotice minha falar para você vir me
encontrar...
- Você
vai abandonar a Inglaterra, não vai? – Seus olhos estavam cheios d’água quando
se percebeu falando.
-
Cal...
- Você
está partindo... E... Você quer dizer adeus, por isso me disse para vir aqui,
não foi?
- Você
não entende...
- EU
NÃO ENTENDO? Diga-me, Dror? Meu sotaque... O que te parece? Meu país está nas
mãos de nazistas agora... E eu na...
Antes
que ela pudesse continuar a falar o garoto já a tinha calado.
As lágrimas
escorriam de ambos os lados.
Era um
adeus.
Ele
envolveu-a com os braços e levou-a ao lugar onde se conheceram, quando a
Inglaterra era considerada segura.
No
verão... Era verde a grama do chão e o céu limpo, as estrelas faziam a festa a
noite.
Entraram
em seu abrigo. O único ainda milagrosamente inteiro.
Sentaram
então no chão sujo. O vento não perdoava, os capuzes cobrindo as cabeças. Um
olhava o outro pela última vez.
- Os
Estados Unidos entraram na guerra agora... Dizem que eles têm uma carta na
manga... Logo a guerra estará acabada e Hittler morto. – Ela dizia com voz
fraca tentando convencê-lo, mas nem ela mesma acreditava. Era impossível derrotá-los.
Ele
sorriu e passou a mão nos cabelos molhados de neve que caíra. Então a beijou
novamente.
Quisera
assim que fosse verdade.
Mas...
A
sirene despertou e aquele som terrível encheu o lugar. Os holofotes gritaram
nos céus e os aviões entravam na festa. E os dois continuavam de lábios
colados. Os soldados saíram nas ruas e as pessoas se abrigavam em seus porões
antibombas. Suas famílias agora já tinham percebido a ausência dos dois.
O lugar
vazio e silencioso foi, em instantes, trocado por um caos silenciador. E os
dois continuavam escondidos com os rostos molhados e de mãos dadas.
As
bombas logo começaram com seus estragos.
Gritos
atordoados enchiam o lugar de dor e sofrimento, enquanto muitas mulheres agora
perdiam seus maridos e crianças seus pais.
O que
uma guerra não pode causar as pessoas?
Uni-las,
ou separá-las.
Mais
dois segundos se passaram e os barulhos ficaram cada vez mais próximos.
Seus
olhos fechados, permaneceram.
E o
mundo estava acabando. E o mundo acabou.