terça-feira, 25 de setembro de 2012

Lágrimas e Bombas



                Era uma fria noite de inverno, e os flocos de neve estavam depositados todos no chão, em galhos de árvores, e nos destroços...
                O céu estava cinza, e não se via estrelas. Mas não que alguém fosse se importar com as estrelas em todo aquele caos de guerra.
                Calina seguiu seu caminho tremendo, com um capuz escuro escondendo-a. Não podia estar na rua uma hora dessas, na verdade, hora alguma lhe era permitida.
                Mas ouvira seu destino. Não só o dela. A Inglaterra não suportaria tanto tempo os ataques da Alemanha. E sabia que não haveria outro destino se não a morte para Dror.
                Ela fechou os olhos deixando uma lágrima escapar por entre eles, a qual ao cair gelou seu rosto e a fez perceber que estava pensando nisso novamente.
                Seguiu seu caminho até que chegou ao seu destino.
                Era uma bela visão, branca... A neve cobria tudo. Se não por uma mancha preta. Ela parou e ficou encarando esta por alguns instantes até que se mexeu e um rosto pode ser visto à pálida luz de um dos poucos postes que ainda se encontrava por ali.
                Estavam no meio do nada. Os dois.
                - Callie?
                Ela puxou o capuz para trás e ele pode ver seu rosto.
                - Calina... Vem, eu te levo pra casa, foi idiotice minha falar para você vir me encontrar...
                - Você vai abandonar a Inglaterra, não vai? – Seus olhos estavam cheios d’água quando se percebeu falando.
                - Cal...
                - Você está partindo... E... Você quer dizer adeus, por isso me disse para vir aqui, não foi?
                - Você não entende...
                - EU NÃO ENTENDO? Diga-me, Dror? Meu sotaque... O que te parece? Meu país está nas mãos de nazistas agora... E eu na...
                Antes que ela pudesse continuar a falar o garoto já a tinha calado.
                As lágrimas escorriam de ambos os lados.
                Era um adeus.
                Ele envolveu-a com os braços e levou-a ao lugar onde se conheceram, quando a Inglaterra era considerada segura.
                No verão... Era verde a grama do chão e o céu limpo, as estrelas faziam a festa a noite.
                Entraram em seu abrigo. O único ainda milagrosamente inteiro.
                Sentaram então no chão sujo. O vento não perdoava, os capuzes cobrindo as cabeças. Um olhava o outro pela última vez.
                - Os Estados Unidos entraram na guerra agora... Dizem que eles têm uma carta na manga... Logo a guerra estará acabada e Hittler morto. – Ela dizia com voz fraca tentando convencê-lo, mas nem ela mesma acreditava. Era impossível derrotá-los.
                Ele sorriu e passou a mão nos cabelos molhados de neve que caíra. Então a beijou novamente.
                Quisera assim que fosse verdade.
                Mas...
                A sirene despertou e aquele som terrível encheu o lugar. Os holofotes gritaram nos céus e os aviões entravam na festa. E os dois continuavam de lábios colados. Os soldados saíram nas ruas e as pessoas se abrigavam em seus porões antibombas. Suas famílias agora já tinham percebido a ausência dos dois.
                O lugar vazio e silencioso foi, em instantes, trocado por um caos silenciador. E os dois continuavam escondidos com os rostos molhados e de mãos dadas.
                As bombas logo começaram com seus estragos.
                Gritos atordoados enchiam o lugar de dor e sofrimento, enquanto muitas mulheres agora perdiam seus maridos e crianças seus pais.
                O que uma guerra não pode causar as pessoas?
                Uni-las, ou separá-las.
                Mais dois segundos se passaram e os barulhos ficaram cada vez mais próximos.
                Seus olhos fechados, permaneceram.
                E o mundo estava acabando. E o mundo acabou.

Nenhum comentário:

Postar um comentário