Passaram
dois segundos desde a ultima vez que abrira seus olhos pela última vez. Pelo menos era o que parecia.
Mas
não, não foram dois segundos e muito menos a última vez. A íris escura,
facilmente confundida com a pupila que logo se dilatava com a falta de luz do
lugar, apareceu instantaneamente.
Mas
não era ali, não podia ser ali. Como viera parar num lugar escuro como esse?
Sua cabeça entrava numa fusão de pensamentos aleatórios e uma leve dor do lado
esquerdo.
Logo
uma forte luz tocou seus olhos o que a fez fechá-los imediatamente. E só agora
tinha realmente aberto os olhos.
Sentiu-se
leve e por isso levantou-se da cama. Aproximou-se da primeira janela que
encontrou e sorriu ao se deparar com a luz do sol.
“Verão...”
Ela murmurou e tornou a caminhar.
Os
passos seguiam para lugar algum, apenas caminhava a procura de alguma porta que
a levaria para fora daquele lugar gelado.
...
Domingo.
Por favor...
Continue respirando... Acordou
novamente desesperada com um sussurro que balançou seus cabelos e arrepiou todo
seu corpo. Levantou-se novamente e olhou o sol que ardia lá fora e tornou a
procurar a saída.
Sonhava
aos cantos como se deliciaria com o mundo lá fora. Deixaria-o queimar sua pele,
e sua retina. Permitiria aquele ar puro invadir seus pulmões e correr pelas
suas veias.
Mas
apenas sonhava.
Talvez
tivesse medo da saída e o que viria a acontecer depois, ou simplesmente não a
encontrava.
Vagando
pelos corredores cheios, em um dia qualquer, esbarra em alguém com o mesmo
olhar perdido.
“És
novo?” – As palavras escorregaram pela língua caindo pela boca.
“Como?”
“Está
à procura da saída também?”
“Sabe
onde é meu quarto?”
“Já
olhou o sol lá fora?”
“Já
tentou responder alguma das minhas perguntas?”
“Eu
perguntei primeiro!”
“Não,
não sou novo. Não acho que tenha alguma saída e sim... Todos os dias.”
“Obrigada.
E não sei onde é seu quarto.”
“Ah
tudo bem... Boa sorte com a saída.”
“Boa
sorte com o quarto!”
Continuaram
seus caminhos opostos e se esbarraram no dia seguinte novamente.
“Achou
seu quarto?”
Ele
balançou a cabeça negativamente e logo tornou com a pergunta óbvia sobre ter
achado a saída.
“Ainda
estou aqui, não?”
“Sim...”
Continuaram em silêncio e com olhos perdidos até que aquele foi quebrado pela
voz fraca do menino: “Não encontrarás a saída...”.
“Errado...”
“Estou
certo, se você quiser talvez ela possa te encontrar”.
A
menina não evitou em passar os próximos dias pensando nas palavras do garoto.
A
dor do lado esquerdo ainda a incomodava.
Debruçou-se
no parapeito da janela e ficou a ver o dia ensolarado passar.
Não
encontrou o garoto pelos corredores cheios mais, e logo entristeceu- se e
emburrou-se. Ficava sentada olhando para a janela, criando coragem para sair
por ali mesmo. Mas suas pernas tremiam e mal sentia suas mãos. Talvez estivesse
presa àquele lugar.
Mais alguns dias passaram e ela
já não se movia, e nem procurava pela saída. Apenas esperava como o menino
dissera.
Sentia seu corpo petrificar
conforme não se movia, mas já não ligava.
A ideia de sair daquele lugar
virara utópica demais.
E quando deixou de acreditar por inteiro,
simplesmente levantou-se deixando a poeira acumulada em seu colo ir em direção
ao chão, mas antes que pudesse tocá-lo a janela estava aberta e a poeira se
espalhou, ela sentiu aquela brisa em seus cabelos, e a luz em sua pele. Um
último choque percorreu seu corpo.
E era ali, depois de anos... O
fim!
Porque nunca acordara, mas só
agora dormia em paz.
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