quarta-feira, 26 de setembro de 2012

O Farol.


    
     A água batia forte nas pedras.
                O casco do barco não foi perdoado aquela noite pela forte tempestade de verão.
                A tripulação de um homem só tremia.
                Suas botas de chuva não adiantaram. Suas meias já estavam todas molhadas.
                A noite passava e o mar não dava descanso.
                Mas foi o silencio que o fez parar.
                Suas pernas que tremiam desmoronaram, e aquele doce som vindo do mar o chamou.             
                O som o invadira por completo e seus olhos fecharam, os lábios se curvaram e o pobre homem já implorava pela morte.
                Seu corpo era jogado de um lado para o outro de acordo com o balanço do barco.
                Seus olhos se abriram quando a água gelada tomou seu corpo.
                Estava sendo puxado para as terríveis águas tempestuosas.
                Já não tão furioso, o mar. Agora esquecera que não lhe era permitido respirar em baixo d’água.
                Seu corpo ficou leve então.
                E voltando a superfície uma risada maléfica se misturou com outras vozes não tão altas, e puxado novamente foi para dentro.
                Mas dessa vez eram várias mãos puxando e puxando-o para dentro da terrível escuridão.
                Arranhavam suas costas e sua barriga. Debatia-se desesperadamente para ser solto. Não queria acabar em mãos terríveis como aquelas.
                Seu ar foi indo assim como sua força.
                Forçou-se a abrir os olhos.
E a água já não parecia líquida.
O rosto sorria e arrumava os cabelos enfumaçados, tinha olhos negros como os daquela água. E seu sorriso ingênuo o envolvia.
Levantou o braço e foi tocar a bela criatura que logo que viu sua intenção gritou.
Gritou tão forte que o homem sentiu sua alma vazando. Seu grito puxava toda e qualquer vida que lhe sobrara.

                O sol forçou-o a abrir os olhos e lá estava.
                A água estava clara, como se a tempestade nunca tivesse acontecido.
                O farol era seu único companheiro agora.
                O marinheiro não sentiu mais saudades de casa, nem de sua esposa.
                Não sentiu nem ao menos a consciência gritando-lhe que estava preso  ali, sem seu barco.
                Seu rosto já não tinha expressão.
                E tudo que lhe sobrara fora seu corpo vazio, o qual permaneceu parado esperando dias e noites para que as sereias voltassem com seu coração.

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